
Há determinadas
coisas que só são verdadeiramente
conhecidas pela experiência direta.
Uma delas é a
viagem astral
ou sonho lúcido. Quem já
realizou estas viagens
conscientes durante o sono sabe perfeitamente que a morte é uma ilusão. Há quem afirme que tais viagens
seriam produto de alguma
química do cérebro. Contudo, como
explicar o fato de alguém
relatar um acontecimento
verídico a quilômetros de distância do local
onde se encontra? Querer que ondas cerebrais
expliquem esse fenômeno é algo, no
mínimo, inusitado, para
não dizer estapafúrdio. A
resposta é que a consciência não se restringe ao cérebro, da mesma
forma que a visão não é exclusiva dos olhos. Se a pessoa
fechar os olhos e se concentrar no pulso, torna-se capaz de enxergar pela
mão, malgrado inúmeros condicionamentos tendam a
subverter e mitigar essa visão holística. Igualmente,
se a pessoa é perfeitamente capaz de entrar
na mente de terceiros, interagindo e influenciando, bem como estabelecer um fluxo emocional, tudo será simples resultado de ondas
ou química? Não, há muito mais envolvido. Numa viagem
astral,
a pessoa interage
também com o futuro e o passado;
como seria possível a premonição se, de alguma
forma, o ser humano não estivesse num patamar espácio-temporal diferente do atual?
Nenhuma onda ou química explica
isso, mas, se levar em conta
que a morte, o
espaço, o tempo e a causalidade
são ilusões, é perfeitamente
possível conceber que a viagem astral seja
um fenômeno autêntico.
De qualquer forma, se a
morte fosse a etapa
final, para
que se preocupar com o nada?
Se você não existirá também não há razão para preocupações.
O inferno? Só as religiões abraâmicas defendem essa estultície. Que maior perda
de tempo cósmico do que criar um local de eterna danação para bilhões e bilhões de seres humanos, como uma vingança incansável
apenas
para
demonstrar autoritarismo?
O céu, pelo que parece, deve ser escassamente
povoado, pois quase ninguém vai para lá, os cânones divinos são os mais absurdos
possíveis. Parece que somente os padres e pastores
detém o poder de salvação e, cá entre nós?, desconfio que, ainda
que os mesmos tivessem a chave de ouro dificilmente cederiam gratuitamente para algum
fiel. Nas palavras de Sainte-Beuve,
“a natureza quer que desfrutemos a vida
o mais possível e morramos sem pensar na
morte.
Além
disso, é óbvio que a imortalidade na
carne não é nem um pouco desejável.
Rousseau foi feliz nesta frase:
“Se nos oferecessem a imortalidade
na terra, quem aceitaria
esta triste dádiva?” Já imaginou
a decrepitude carnal
pelas centúrias sem-fim? Seria o eterno tormento. Se o manto de carne
está deteriorado, nada
melhor do que substituí-lo por outro mais
adequado, seja
ou não de carne. Esta é a
função da morte: absorver e renovar.
Shakespeare
dá sutilmente a chave para a
morte, quando assere “Morrer, dormir. Dormir? Talvez sonhar”.
A morte e o sonho são extremamente idênticos. Ambos possuem a mesma
fonte, a mesma origem; ambos
são feitos da mesma matéria primacial. A
própria vida terrena
é onírica (sonho, fantasia) também. Tudo é subjetivo e relativo; ainda que o vulgo pense em termos de um edifício
bem construído, a todo momento desmantela-se
como um castelo de cartas.

Por outro lado, a
auto-destruição é a extrema
manifestação da
covardia.
Quem opta por este tipo de solução não
deveria jamais
ter nascido, pois não se tornou
merecedor da maior dádiva
da natureza, que é a
própria vida. Seja motivado
pela perda de um amor,
emprego ou qualquer outra coisa,
nada
é motivo para se tirar
a própria vida.
LaVey ensina que “a vida
é a grande indulgência, a
morte a grande abstinência”. Da mesma
forma, o mártir, ainda
que sob motivos nobres, não ama a
si mesmo, ama o fanatismo. Põe a pseudo-honra acima de sua
vida, abraça um objetivo que logo será esquecido, ainda
que a sociedade teime hipocritamente em venerar tal
ser acéfalo. Sua
imolação caracteriza a
estupidez em seu grau mais elevado.
Suas cinzas fazem
a apologia da
servidão e da ignorância, e longe está de trazer algum
proveito - não passa do subproduto mais infame
do altruísmo.
Até
mesmo as pompas fúnebres, segundo Santo Agostinho,
“são antes um consolo para
os vivos do que um tributo ao morto”. É fácil perceber que, quando alguém
próximo morre, há uma espécie de transferência
psicológica para
a figura do morto, é como se fosse um trailler de sua própria
morte. Daí a dita
veneração ser um tipo de fuga, um escape
do real, de forma que a
psique da pessoa permaneça tranqüila, afinal é o “outro” quem morreu. O corajoso, ao confrontar a
morte, sabe que ela apavora
justamente por ser ilusória. Se alguém avança em direção ao próprio medo, este simplesmente desaparece,
pois não passa de um fantasma.
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